A glutamina é um suplemento multifacetado. Ajuda a regular a massa muscular, intervém ao nível do sistema imunitário, influencia a síntese da glucose e pode até melhorar o metabolismo da insulina.
A glutamina parece estar um pouco envolvida em tudo e podendo até ser considerado o aminoácido mais importante para os praticantes de musculação.
O que é a glutamina?
Sabemos que as proteínas são constituídas por aminoácidos. E que as melhores fontes de proteínas contêm as percentagens mais elevadas de aminoácidos essenciais. Lembre-se de que os aminoácidos essenciais são aqueles que precisa de obter a partir da alimentação. A glutamina, porém, é considerada “um aminoácido condicionalmente essencial”. O que será que isto quer dizer, pergunta você.
Curiosamente, a glutamina (não os hidratos de carbono nem as gorduras) é a fonte de energia preferida das células de divisão rápida, como são os enterócitos (células intestinais) e os linfócitos (um tipo de glóbulos brancos que se encontram no sangue). Além disso, este aminoácido desempenha uma função no equilíbrio ácido-base, como transportador de azoto e um precursor de importantes macro-molécula (por exemplo: proteínas, ácidos nucleicos). Sob determinadas situações (stress catabólico, nomeadamente), a glutamina pode ser necessária como parte importante da nossa dieta; daí o termo “aminoácido essencial condicional”.
A glutamina perfaz cerca de 61 por cento dos aminoácidos que formam a nossa musculatura esquelética. A perda de glutamina muscular pode ser um sinal de catabolismo muscular. Por isso, é fundamental que se mantenham as suas reservas, a nível intramuscular.
A glutamina afecta o sistema imunitário?
Apesar das pesquisas realizadas nesta área, permanece ainda alguma confusão. Foi demonstrado que o exercício físico intenso provoca uma queda nos níveis sanguíneos de glutamina. Recorde-se que a glutamina é usada pelas células do sistema imunitário.
Teoricamente, faria sentido dizer que níveis baixos de glutamina têm um impacto negativo na resposta imunitária. Agora, um estudo recente revela que a suplementação com glutamina não tem efeitos sobre o metabolismo dos linfócitos de ratos “exercitados”.
Divergências à parte, eis por que parece válida a suplementação com este aminoácido para ajudar o sistema imunitário. Per si, parece não influenciar, o que se deve ao facto de o sistema imunitário estar provavelmente a “roubar” glutamina de todas as partes da nossa musculatura esquelética. Pensando bem, o que pesa mais na sobrevivência do corpo: ter grandes músculos ou um sistema imunitário saudável? Sei que pode soar a blasfémia para os culturistas, mas deve ser óbvio que a preservação da função imunitária é mais importante.
Portanto, precisamos de ingerir glutamina para evitar que o sistema imunitário utilize as reservas deste aminoácido dos nossos músculos, protegendo, desta forma, a massa muscular.
Glutamina: como aumenta a massa muscular?
A capacidade para preservar a massa músculo-esquelética em situações de stress é talvez a sua qualidade mais conhecida. Por exemplo, após uma cirurgia como a colocação de uma prótese da cabeça do fémur, a suplementação com glutamina numa nutrição parenteral (intravenosa) atenua a perda de aminoácidos livres do músculo-esquelético. Existem estudos científicos que demonstram que a manutenção de níveis elevados de glutamina intramuscular é essencial para prevenir a degeneração dos músculos.
A nível molecular, a glutamina parece exercer os seus efeitos ao prevenir a perda de uma proteína específica chamada miosina de cadeia pesada (MHC). A MCH é a proteína do músculo-esquelético que determina as suas propriedades contrácteis. Após uma grande cirurgia, o stress que o corpo experimenta é tremendo. Mas um treino intenso de resistência também expõe o organismo a um enorme stress.
É provável que os mesmos princípios fisiológicos se apliquem nestas duas perturbações físicas. Por isso, em ambos os casos, será prudente recorrer à suplementação com glutamina de forma a prevenir uma potencial perda de proteína muscular.
A glutamina afecta o metabolismo do açúcar?
O efeito da glutamina no metabolismo da glucose (açúcar) não tem recebido muita atenção do mundo do culturismo. E na verdade, um estudo muito recente da universidade de Rochester demonstrou a importância da glutamina como reguladora da gluconeogétiese (formação de glucose). A investigação descobriu que a infusão de glutamina em seres humanos, resultava numa conversão de glutamina em glucose. Este processo ocorreu sem qualquer alteração da insulina ou do glucagon, as principais hormonas reguladoras da glucose. A conversão de glutamina em glucose aconteceu provavelmente nos rins e não no fígado que é o regulador primário da produção de glucose.
Então, como é que isto afecta os praticantes de culturismo? A glutarnina pode influenciar, por exemplo, a perda de gordura que um culturista pode atingir em pré-competição. Siga o raciocínio. Parte da dificuldade em conseguir-se baixar significativamente os níveis de gordura corporal através da dieta está relacionada com as hormonas reguladoras da glucose, a insulina e o glucagon. Geralmente, pretende-se minimizar os níveis de insulina segregada de forma a inibir o depósito de gordura nas células adiposas. Mas a verdade é que a ingestão reduzida de glucose ou de hidratos de carbono pode resultar na proteólise (degradação de proteínas) muscular pois, corno se sabe, a glucose tem um efeito “protectoror” sobre a proteína. Dai a importância da glutamina. Ela pode converter-se em glucose. O que é uma boa notícia para o cérebro, para o qual a glucose pode contribuir como fonte de energia (para que não nos sintamos tão irritáveis), podendo também ajudar a preservar massa muscular. Para além disso, dado que a conversão de glutamina em glucose não resulta num aumento dos níveis de insulina, não se obterá o efeito lipogénico que a insulina produz.
Portanto, se estiver a fazer uma dieta com o objectivo de eliminar gordura corporal para tentar atingir níveis de definição muscular normalmente observados no culturismo de competição, poderá ser sensato investir numa boa dose de glutamina.
A glutamina ajuda a regular o peso corporal?
Sim! Num estudo em que ratos foram alimentados à base de uma dieta rica em gordura, ficou demonstrado que a suplementação com glutamina afectou a quantidade de gordura que estes pequenos animais ganharam.
Nesta investigação, quer uma suplementação com glutamina, quer com alanina, numa dieta rica em gorduras resultou num baixo ganho de peso corporal quando comparada com uma dieta só rica em gordura. Estas dietas eram constituídas por cerca de 45 por cento, de gordura, 36 por cento de hidratos de carbono e o restante em proteína. Refira-se que esta percentagem de gordura é semelhante à consumida por muitos americanos com excesso de peso. A glutamina, por si só, também baixou os níveis de glucose e de insulina no sangue destes ratos consumidores de gordura.
Tratam-se de descobertas que podem ser importantes para quem tenha predisposição para a obesidade ou diabetes.
Seria útil experimentar glutamina em diabéticos para determinar se a regulação da glucose sanguínea é estimulada e examinar se este versátil aminoácido pode controlar o peso corporal em indivíduos com excesso de gordura.
Dados os estudos que têm demonstrado a segurança de doses elevadas de glutamina, é possível que investigações futuras proporcionem mais suporte científico ao uso da glutamina no combate à diabetes e obesidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário