terça-feira, 8 de novembro de 2016

Laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata. Será?

A laranja à noite afinal não "mata", até faz bem. Os cereais é que são inúteis e os antioxidantes maus para os desportistas. Eis os mitos que o congresso europeu de nutrição se preparou para desfazer.


A laranja à noite afinal ajuda a adormecer, os cereais são desnecessários numa alimentação saudável e os antioxidantes são prejudiciais para os desportistas, revelam especialistas em nutrição que no se reúniram em Lisboa para desmistificar conceitos alimentares errados.
O 3.º Congresso Europeu de Nutrição Funcional reunio os “maiores especialistas do mundo em nutrição funcional” para partilhar conhecimentos e alertar para questões cruciais de saúde.

A “nutrição funcional” – considerada a nutrição do século XXI – foca-se na deteção e correção dos desequilíbrios nutricionais de cada pessoa, vendo-a como única, mas tendo em conta que o seu organismo é um todo, consistindo numa abordagem preventiva e de tratamento de problemas crónicos de saúde através da deteção e correção de desequilíbrios bioquímicos que geram as próprias doenças, explicou à Lusa o investigador português Pedro Bastos, responsável pela organização do congresso.

Em debate estiveram vários temas alimentares, destacando-se alguns que contrariam ideias enraizadas na sociedade, como é o caso do painel subordinado ao tema “afinal devemos comer laranja ao deitar, entre outros alimentos amigos do sono” que deita por terra o provérbio “laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata”.

Pedro Bastos explica que, resultando de observações casuais e de informações transmitidas de forma oral, os provérbios populares não foram sujeitos a análise rigorosa e científica, o que resulta por vezes em incorreções, como será o caso deste.
“No que diz respeito ao sono, um estudo publicado em 2013 no Journal of Pineal Research demonstrou que a ingestão de laranja aumenta as concentrações de melatonina, a principal hormona responsável pelo sono”, acrescentou.

Ainda no que respeita a crenças alimentares, os cereais surgem na base da pirâmide alimentar e são tidos como fundamentais na alimentação, por serem o “combustível” do organismo, estando presentes em quase todas as refeições e em snacks nos intervalos.
Nada mais errado, na verdade, os cereais são absolutamente desnecessários, pois “do ponto de vista puramente nutricional, não existe nada nos cereais que os torne essenciais, pois todos os nutrientes existentes nos mesmos estão presentes em outros alimentos, incluindo fibra, vitaminas e minerais”, sendo que o seu teor em vitaminas e minerais é reduzido e a biodisponibilidade (quanto de facto absorvemos e aproveitamos) dos mesmos é baixa, esclareceu o especialista.

Em termos nutricionais, uma alimentação saudável deve recolher os hidratos de carbono das hortaliças (que simultaneamente têm oito vezes mais fibras do que os cereais), frutas (duas vezes mais fibras) e tubérculos.

As consequências de uma alimentação fortemente baseada em cereais, sobretudo os refinados, são risco acrescido de diabetes tipo II, de doença cardiovascular, de progressão de alguns tipos de cancro (mama, próstata e cólon) e de algumas doenças inflamatórias e metabólicas, afirmou Pedro Bastos.

Outra “surpresa” deste congresso é que os “suplementos antioxidantes diminuem a eficácia do exercício físico”, ou seja, a prática de exercício físico “induz adaptações que melhoram a nossa saúde e resistência a diversas patologias”.
“Uma dessas adaptações consiste na produção endógena de proteínas antioxidantes, que nos vão ‘proteger’ não apenas de futuras sessões de exercício, como de vários outras agressões às quais somos expostos (como tabaco e poluição)”, acrescenta o investigador.
O que acontece é que o recurso a suplementos antioxidantes vai diminuir a produção de antioxidantes endógenos e outras adaptações que melhoram a saúde e o rendimento desportivo, explicou, aconselhando antes a ingestão de “quantidades fisiológicas de vitamina C e E através de fruta, hortaliças e oleaginosas”, para garantir “um aporte adequado dos nutrientes necessários para a produção e ação dos antioxidantes que nós próprios produzimos”.

Fonte: http://observador.pt/2016/10/07/ por Agência Lusa

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